TV RURAL ” A BALADA DO COIOTE” (2012)

Letrista em conjunto com Maria João Marques de “Faz-te Um Homem Rapaz”

FAZ-TE UM HOMEM RAPAZ

modera a ansiedade de te veres a eito 
faz-te calmo e bom proveito 

quando amanhã te levantares 
e achares que é natural 
não pensares nessa mulher, então 
tudo vai mal 
  
quando te ouvires a falar 
mete a cabeça para dentro 
quando te ouvires a falar 
encolhe os ombros num lamento 
nem penses nisso, então 
tudo vai mal 

tudo vai mal 
vai de mal a pior 
e essa coragem, se és capaz 
faz-te um homem, rapaz 
  
já viste o que um dia faz? 
  
e se esta noite passar 
há-de te irritar o dia 
e se esta noite evitar 
o que a estupidez faria 
pára com isso, então 
tudo vai mal 

tudo vai mal 
vai de mal a pior 
e essa coragem, se és capaz 

vá lá, faz-te um homem, rapaz 

modera a ansiedade de te veres a eito 
faz-te calmo e bom proveito 

faz-te um homem, rapaz 

já viste o que um dia faz?

 

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“A FACA” de CAPITÃO CAPITÃO (2012)

Participação em acústico de Musiquim

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“RIVER” de JONI MITCHELL (2013)

Interpretado por 14 cantoras portuguesas

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“PORQUE NÃO ME VÊS” de FAUSTO BORDALO DIAS (2014)

Versão para a Antena 1 ” Os Dias Cantados”

Joana Barra Vaz: Arranjos, Voz, Guitarras, Percussão, Coros
Ricardo Jacinto: Violoncelo

 

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“TURISTA!” de BERNARDO BARATA (2015)

Letrista das canções: “A Fuga”, ” Rapaz”, “Já Não Dá”, “Corações Ao Alto”

 

2. A FUGA

Não queria fugir e deixar-nos com tantas frases por dizer 
Mas o silêncio anda aí a ganhar terreno mais tarde ou mais cedo 
As noites repetem-se e eu perco o sentido de aqui estar 

Não queria fugir e deixar-me assim com tantas horas por contar
Mas a euforia anda aqui a ganhar terreno, mais tarde ou mais cedo 
Os dias afundam-se e eu invento uma urgência para desligar 

Que culpa tenho eu de conseguir sair 
Não, não é nada contra ti 
Que culpa tenho eu de conseguir sair 
Não, não é nada contra ti 

Andava por aí a tentar saber 
Quantas vezes vão esmagar a ilusão 
E encará-la de viés, quantas máscaras vão cair aos meus pés? 
E quantas vezes vão dizer “Já sabias sem saber?” 
Quantas desculpas vou eu forjar só para me perder? 

Não queria fugir e deixar-vos com tantos erros por cometer 
Mas o cada um por si tornou pequeno, o que mais tarde ou mais cedo 
A noite revela ser um triste tropeço no meu andar 

Não queria fugir e deixar um universo adulterado por explorar 
Mas o afecto anda aqui virado do avesso, mais tarde ou mais cedo 
O dia assoma e eu reconheço que este não é o meu lugar 

Que culpa tenho eu de conseguir sair 
Não, não é nada contra ti 
Que culpa tenho eu de conseguir sair 
Não, não é nada contra ti 

Andava por aí a tentar saber 
Quantas vezes vão esmagar a ilusão 
E encará-la de viés, quantas máscaras me caíram aos pés? 
E quantas vezes vão dizer “Já sabias sem saber?” 
Quantas desculpas vão inventar só para me perder?

 

3. RAPAZ

Rapaz 
Não fiques por aí a ver 
O barco a passar 

Rapaz 
Imagina só o que um dia 
Te poderá reservar 

Rapaz 
Cá fora a vida continua 
Fugaz 
É o ombro da mulher semi-nua 
Que só há-de ser tua 
Se tu correres atrás 

Rapaz 
Abraça a rapariga 
Eu sei que tu és capaz 

Rapaz, 
Nada vai acontecer 
Até saíres contigo à rua 

Rapaz 
Cá fora a vida continua 
Fugaz 
É o ombro da mulher semi nua 
Que só há-de ser tua 
Se tu correres atrás 

Por isso rapaz 
Não fiques por aí a ver 
O barco a afundar 
Que o mar só ajuda 
Quem quer navegar

 

6. JÁ NÃO DÁ

Chegou a casa e disse “Já não dá!” 
Preciso de sentir que ainda sou gente 
As ruas estão repletas de pessoas descontentes 
A desabafar com quem vai ao lado 
Que esta terra é meio anjo, meio diabo “Já não dá!” 

Abriu as malas e disse “Já não dá!” 
Vamos embora para um país mais quente 
A mulher acena um sim com o olhar ausente 
E o filho, à porta do quarto, calado 
Que o destino é meio anjo, meio diabo 

Sobrevoou a cidade e disse “Já não dá!” 
Deixou para trás a família e os amigos 
Arrumou a vida às costas num só fardo 
Levou trapos, livros e retratos antigos 
Que a coragem é meio anjo, meio diabo “Já não dá!” 

Quando o coração aperta e “Já não dá!” 
Fazem gazeta de domingo a domingo. 
E prometem regressar um dia mais tarde 
Levam de volta vinho e a ternura de um abraço 
Que a saudade é meio anjo, meio diabo.

8. CORAÇÕES AO ALTO

Queria um coração bordado a vermelho-sangue sobre os corpos nus 
Queria um ceder pulsante num tête-à-tete errante movido a dejá vu 
Nos fios soltos de rosa e escarlate 
Desfiou-se sem querer a verdade 
E sobre cada pedaço de pele 
Sobraram linhas e linhas cruzadas 
Cruzes quebradas e restos de nada 

Criei um coração fechado verde-seco de chagas na cama para um 
Senti o cerco apertar na aorta e a artéria cava sem espaço nenhum 
No rio interno de oxigénio e sangue 
Abafado no compartimento estanque 
Soou por dentro do corpo 
O ritmo de um tambor errático 
A errar sobre um amor apático 

Vi um coração violeta-sagrado rodeado de chamas num cuidado debrum 
Apaguei o fogo com água benta, expiei o pecado e expus tudo ali a nu 
Ao fundo, o altar frio de mármore 
Reflectiu a luz-preguiça da tarde 
E o eco da porta a bater
Latejou no dedo mindinho 
Um medo leve e muito miudinho 

Lembrei o coração azul oceano há milénios atrás numa ilha a Sul 
Dez anos de faz e desfaz, trama de ondas de mar, urdida em escassa luz 
Os olhos sorvendo no fundo de um livro 
Lágrima de guerreiro perdido 
No indicador sabia ao sal 
Do vai-vem de páginas sobre o peito 
De um homem desfeito e refeito 

Guardei o coração remendado branco-sujo de trapos num lugar aberto 
Coração sem religião ou pranto, sem altar ou recanto,

Sem qualquer aperto 
Guardei-o num pedaço de linho 
Púrpura, verde, branco e indigo 
Pulsando entre as compressas 
Bem seguro por mãos delicadas 
Que o uniram sem fechar nada

Sem esperar nada

9. SALVAR O DIA

Uma casa de papel que se desmonta 
Um fato amarrotado na mala 
Cacos, tijolos, areia na estrada 
E homens cansados de ser máquina 

A mulher, a miúda, a eterna loucura, 
De diabo no corpo, saiu, sumiu, sei lá 
Do nada anunciou o fim da ternura 
Entre restos de vinho ao jantar familiar 

Eu ouvi música nocturna durante o dia 
Era uma forma de calar a melancolia 
Do sol de sul, do vento de norte 
Da chuva na cara, da minha má sorte 
Alguém me salve a noite numa frase 
Como quem escreve nas ruas da cidade 

Fiz-me à estrada para tentar escapar 
Mas a única coisa que queria era voltar 
À voz embargada, à pele arranhada 
Ou a outra morada para me abrigar 

Sou rapaz, menino, eterno bandido 
Tenho o diabo no corpo, vadio 
E na prosa de um encontro ocasional 
Revelei a minha agonia banal 

Esta mulher bem parecida 
Fez do encontro um passeio 
Albergou-me no leito da noite para o dia 
Onde a outra foi esquecida 
Salvou-me o dia numa frase 
Como quem escrevia nas ruas da cidade 

E é mulher, miúda, eterna loucura 
Diabo no corpo, ficou, sei lá 
Do nada anunciou uma nova aventura 
No rumor da cidade 
Cidade a madrugar

 

 

10. ROTINA

Ele era um sujeito qualquer 
E saiu com a porta a bater 
Deixou em casa a mulher 
Cansada de tanto ansiar 
Uma companhia para o jantar 

E ele era um sujeito qualquer 
Chegou sem nada dizer 
E afirmou: “Não tenho nada a perder.” 
Pediu um copo no bar 
E tragou-o sem sequer o poisar 

Quando eu me for embora 
Vê lá se dás que eu não estou 
Se eu partir agora 
Não te exaltes que eu vou 
Para poder andar por aí 
Eu só quero andar por aí 

Ele era um sujeito qualquer 
Que voltou ao amanhecer 
Na cama confessou à mulher 
Ter medo do medo e mais 
Ter medo de a perder 

Quando eu me for embora 
Vê lá se dás que eu não estou 
Se eu partir agora 
Não te exaltes que eu vou 
Para poder andar por aí 
Eu só quero andar por aí

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“W SONGS” PARQUE de RICARDO JACINTO (2015)
(Coro)